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Estou num quarto de hospital. Minhas mãos devem estar frias, mas não as sinto. Estar em coma não é tão romântico quanto pintam os espiritas, nem tão incontinente quanto afirmam os neurologistas. Eu diria que o coma é o estado latente da mais pura poesia.

TEXTO DA ORELHA

Jorge Henrique Romero leva o leitor em seu primeiro romance pela voz de um narrador em coma que desafia a realidade ao narrar suas memórias. Lembranças repletas de fracassos, desilusões e desesperos, pois tal como diz o narrador, essa é a matéria bruta que o romance e a poesia usam para transmitir nossa humanidade.
O autor-tradutor-narrador em coma cria uma narrativa única que metamorfoseia-se em gêneros literários e textuais, seja em capítulos epistolares ou em roteiro, narrados em forma de lista ou por meio de uma nota de rodapé. Jorge Henrique Romero transmite metaforicamente a potência do mundo literário em narrativa e vice-versa, ampliando o foco sobre personagens palpáveis, cheios de nuances e cientes da realidade do mundo que habitam.
E narrando com seu “quase” defunto-autor Jorge cria uma neblina entre a fronteira do real e da criação. Do estar vivo ou em coma, uma vez que os personagens migram entre o coma social e o real, e por meio dessa lente eficaz podemos ver de forma ampliada as mazelas da realidade que atingem apenas uma parte da sociedade.
Talvez ao terminar essa leitura: Todo este livro aberto tenha durado somente um segundo, mesmo que cada segundo dure toda uma eternidade.

Jeferson Barbosa
Escritor e Editor