Descrição
Autor
Jorge Maia
Páginas
128
Gênero
Poesia
Formato
Brochura 14×21
ISBN
9786584634763
Estes são versos feitos para se declarar, para serem interpretados em alto e bom som.
Afetos foi escrito ao longo de mais de 10 anos e se estrutura sobre três temas que me são caríssimos: o amor/a dor, a saudade e a desnaturalização da vida social. Cada poema foi cuidadosamente escrito, lido, relido, interpretado e transformado até que pudesse expressar, em detalhes, a intensidade dos sentimentos que me levaram a concebê-lo, porque acredito que a arte de qualidade surge de movimentos espontâneos, sim, mas só se torna verdadeiramente rica e potente ao ser lapidada; e assim eu procurei fazer, sonhando em remexer mentes e corações por aí.
O livro está dividido em uma abertura, com o poema “Padê de Exu”, de Abdias Nascimento e mais três capítulos, sendo, respectivamente “Acasos-Amor-Tempo”; “Vento solto”; “Toda dor é sagrada”. Contém poemas sobre a metrópole e sua frieza, sobre o racismo que nos ronda e sua crueldade, mas também contém textos sobre o amor de minha mãe, sobre amores românticos e principalmente sobre as fissuras camufladas na realidade dura do cotidiano, pelas quais nós, poetas, desvelamos felicidades, doçuras e a belezas possíveis e necessárias, apesar…
Por um triz
Vivo de catar pedaços.
De catar pedaços e lutar pra encaixar tudo antes
[ que me esbarre
e tudo caia no mundo outra vez.
Eu me esbarro nos outros, esbarram em mim,
a gente se esbarra, se troca, se arrebenta e o que cai
são pedaços de nós.
Não há mais forças, não tem mais jogo,
não há mais tempo só para pedaços soltos.
Quero dar presentes bonitos,
receber afetos, ser afetado de fato e afetar até o fim,
com tudo, com força.
Quero o intenso e quero agora, sem barulhos.
Quero o intenso puro,
sem ruído que enfraquece e faz flor bonita
[ desabrochar em mato seco.
Uma vidinha normalzinha, com sorrisos gargalhados
e bobagens vulgares da banalidade boba
[ que é estar feliz
Tão boba que a gente só é, sem pensar
[ muito em querer ser.
Eu sou um corpo no mundo, à deriva, ora
[ embarcação, ora mar
O barco da força pulsante de sangue forte
[ que carrega a si e aos seus
pelos caminhos abertos por Exu
A força criativa que vai, sem parar.
Mas aqui também mora o não caminho,
o risco do naufrágio,
o esfacelamento de toda essa potência
que me lança ao mar de peito aberto
Que ora tem a forma e a força de um falo sagrado,
mas que em um passo pode ser apenas um
[ corpo no mundo,
um ser, um corpo só.