Descrição

Subterrâneos do Útero

O sangue, as pétalas, o gozo, a maternidade. Ser mulher em uma sociedade que quer nos diminuir, que tenta nos silenciar e fechar as portas, deixando-nos confinadas a espaços determinados, é saber que o nosso verbo principal sempre será lutar. Tal verbo se faz carne no livro de Kellen Dias e Leila Mendes. Por isso, “Subterrâneos do útero” transborda as abundantes águas de que somos feitas. O livro carrega a poética das muitas vozes, contemporâneas e ancestrais, que fazem eco e sussurram nossa proteção. A palavra transformada em poesia é oração, é orgasmo, é flor, é fortaleza. O sagrado e o profano, neste livro, não são antíteses ou contrários, são as duas faces da mesma moeda. O dia e a noite. A lua e o sol. Eros e Tânatos. E são também terceira margem inventada para nos dar o lugar que precisamos ocupar. Fora do tempo, fora do espaço, fora da racionalidade, a poesia leva ao abismo. É de lá que nos jogamos, nascem as nossas asas e alçamos o voo transcendente.
O encontro das autoras com a poesia é, portanto, uma forma de trazer ao mundo tudo o que está inscrito nos seus corpos e nas suas almas. A poesia escrita por mulheres foi, durante muito tempo da nossa história, classificada como confessional, como se uma confissão fosse algo menor. Pelo contrário, confessar-se requer muita coragem, porque significa trazer à luz o que está em nosso subterrâneo, nas entranhas do nosso ser. E quem melhor do que as mulheres para fazer isso? Outro rótulo aplicado à literatura escrita por mulheres é o de ser sensível. Como se fosse a dureza, e não a maleabilidade, aquilo que nos mantém vivos como espécie. Logo, de minha parte, entendo que ser confessional e sensível se converte em grandes elogios para a literatura escrita por mulheres. Como diz a nossa querida Adélia Prado, “mulher é desdobrável”, por isso é infinita a quantidade de temas e de adjetivos com os quais se pode caracterizar a poética dessa dupla.
O duplo. A união. A aliança. O passado. O presente. Olhos postos no futuro, este livro vai mexer com leitoras e leitores que se deixem guiar pela força das palavras. Elas se enlaçam e formam compromisso. O livro é dividido em cinco partes: Afrodite, Alice, Oxum, Oizys e Sherazade. Cada uma dessas frações representa uma forma de se olhar no espelho. Os fragmentos se reúnem e formam um mosaico que, dependendo do ângulo em que você enxerga esse caleidoscópio, mostra uma nova imagem. A alternância de poemas assinados ora por uma ora por outra poeta faz nascer um encontro bonito, repleto de sororidade e aconchego. A liberdade de ser, a liberdade de fazer, a liberdade de criar. À liberdade! Este é o grito que ouvimos emanar dessas páginas.

Alê Magalhães

Informação adicional

Peso 400 g
Dimensões 22 × 30 × 5 cm
Autores

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