Descrição
Autor
Murilo Velludo Ferreira
Páginas
96
Gênero
Poesia
Formato
Capa Dura
ISBN
9786584634930
“Nascer é isso: estamos sós e isso nos acompanha por toda a vida”. A solidão, aqui, assume uma dimensão existencial, como um retrato da organização da vida nas cidades, das distâncias que nos opõem e da fuga ao litoral. Nesse livro, dividido em duas partes, a poesia assume a forma de uma melancolia assistida de longe, que, somada à filosofia que se busca imprimir aos versos, dá a real dimensão dos fatos: a solidão é um percurso.
“TEU CORAÇÃO é uma entrega, uma busca, uma revelação: poeta (dos bons) é aquele capaz de inaugurar palavras e desejos a partir da observação atenta das coisas. Murilo aqui se consagra como poeta-filósofo. Ao lançar luz (ainda que de fininho, pelas frestas) sobre o drama existencial, nos revela caminhos de sol e a redenção dos encontros – com os outros, com o mar”
Julia Pantin
TODOS OS CORPOS QUE ORBITAM O SOL
Todos os corpos que orbitam o sol
De uma forma ou outra
Se chocam no espaço
Sem nada que os impeça de negar suas elipses
Todos os corpos que orbitam o sol
Circundam também o meu rosto
Exercem sobre mim vontades invisíveis
E amanhã não existirá mais nada
Nada que não seja esse cansaço
Arrastado
Todos os corpos que orbitam o sol
Unidos pelas mesmas vertigens
Ou por modulações nas luzes
Equilibrando o universo
Nas pontas dos dedos
Todos os corpos que orbitam o sol
Alheios ao seu calor
Como a criança que fui
Na esquina
Soprando segredos
Passam desapercebidos
E partilham seu ser sozinho
Todos os corpos que orbitam o sol
Recíprocos
E calados na chuva
Sem saber
Que amanhã não existirá mais nada
Para podermos acordar
Mais uma vez atrasados
E com pressa
E sem fome
Do repentino
De nada
Todos os corpos que orbitam o sol
Ao acordarem as coisas
Altamente empenhados em nascerem o dia
Que quase sempre acaba atrasado
Cansado e arrastado
Todos os corpos que orbitam o sol
Circundam também o meu rosto
Sem se fazerem percebidos
Sem rastro de estrondos ou ruídos
.
.
.
Tudo isso se rende a uma única verdade:
Eu não sinto o sol queimar sob a minha pele