O imagético da poesia é construído em torno de eu-líricos que edificam um todo supostamente coeso na colcha de retalhos de cada autor. Cada eu-lírico habita em seu poema, tal como uma casa de letras, escrita em versos poéticos com ou sem rimas. Essa casa é mobiliada por lembranças, intencionalidades e vários tons de discursos, que podem ser ou não destoantes da voz do próprio autor. Este livro é uma ilustração da mobília de vários personagens. São móveis repletos de histórias, a maioria sem finais felizes, e cheios de sentimentos próprios, carregados em incertezas, solidão, loucura e desproporcionalidades. É uma casa cheia de poemas-móveis que conferem uma ambiência repleta de provocações. Este livro é um catálogo de mobília antiga, não por assuntos ultrapassados, mas pelas marcas que sangram. São móveis angulosos de personagens aduncos e cheios de indagações. A poesia que fala é aquela que contesta seu passado, seus atores e seu contexto. Uma casa aberta à visitação, com seus móveis expostos, não guarda segredos. Que cada leitor avalie a mobília com cuidado, pois o olhar de cada ângulo revela confidências diferentes.